Afonso Cláudio

"Entre vales, montanhas e campinas, um dia uma cidade despontou..." cheia de gente boa, trabalhadora e com vontade de vencer. Este é um espaço para divulgarmos as coisas que só acontecem aqui.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

AFONSOCLAUDES



Nestas férias de janeiro apliquei um curso intensivo de 'afonsoclaudês', dialeto típico dos nativos desta magnífica cidade de cachoeiras, cadeia de montanhas, lugares aprazíveis e gente hospitaleira.
Tudo começou de forma despretensiosa, na verdade eu sequer tinha consciência de que não falava simplesmente português, e sim uma outra variação lingüística dela que é a nossa língua oficial brasileira. Na verdade, passei a perceber isso, quando conversava com uma pessoa especial que mora em outro estado.
Era apenas eu dizer uma de nossas palavras típicas afonsoclaudenses, que até então eu julgava palavras comuns em todo o território nacional, e ele disparava em uma risada gostosa e a conversa descambava para o ‘afonsoclaudês’. (Hum, agora fiquei com uma dúvida, será que ‘descambar’ também é um verbo que faz parte do nosso dialeto?!)
Não precisamos nos assustar, não falamos errado. Falar certo ou errado é bastante relativo (como tudo na vida) e vai além da gramática ou da concordância empregada no nosso linguajar. Aliás, a sociolinguística já diz que não há um modo certo ou errado de falar. O que falo pode ter sentido para mim, representar exatamente o que estou pensando naquele momento, mas para outros, pode não passar de uma piada, conter um erro gramatical impraticável, ou simplesmente não expressar significado algum.
Para mim, estou falando certo quando digo que vou ‘aninhar- me’ na cama para dormir, pois estou ‘pingando’ de sono. Para você o certo é dizer que irá se ‘acomodar’ por entre os lençóis, pois está com ‘muito’ sono.
Para mim, quando o ar fica pouco, pela emoção do momento, ou pela situação vivida, eu começo a ‘arfar’; você fica com a respiração ‘ofegante’ mesmo, ou, no máximo com ‘falta de ar’.
Se eu te peço para parar de me ‘futucar’, você dispara numa risada e diz que sequer sabe o que isso significa, corre para o seu bloquinho de notas e escreve o significado que nada mais é que ‘mexer’, ‘tocar insistentemente’, até ‘perturbar’.
Nestas horas as risadas são impossíveis de se conter. E ‘besteirenta’ que sou...
- Pera aí... ‘besteirenta’? Preciso anotar mais essa no meu bloquinho de notas de ‘afonsoclaudês’. Qual é mesmo o significado dessa?
É isso aí, a cultura também é feita de palavras. Palavras que dizem muito de nós, palavras que revelam nossos amores e temperam nossos sabores; palavras que desenham a nossa emoção, que esboçam nossos sentimentos e que eternizam nossa história. Sejam elas em prosa, em verso ou mesmo em retórica.

Publicado no Jornal Cidade - Fevereiro/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário