Afonso Cláudio

"Entre vales, montanhas e campinas, um dia uma cidade despontou..." cheia de gente boa, trabalhadora e com vontade de vencer. Este é um espaço para divulgarmos as coisas que só acontecem aqui.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

TEMPERANÇA


Afonso Cláudio é uma típica cidadezinha do interior do Espírito Santo: bucólica, com belas paisagens, gente trabalhadora, um tanto pacata, com pouco movimento cultural, algumas festas, futebol de várzea, voltas na pracinha no sábado à noite, missas, quermesses, etc.

Entretanto, Afonso Cláudio possui um espaço privilegiado para o fomento da cultura, o Centro Cultural José Ribeiro Tristão. É um espaço construído pelo Grupo Tristão, filhos da terra, com amplo palco e auditório, normalmente utilizado como teatro.

Neste espaço são realizados Festivais de Teatro que lotam seu auditório, além de Formaturas e outros eventos sociais e culturais da cidade.

No último sábado (26), o Centro Cultural José Ribeiro Tristão recebeu a fabulosa Cia de Dança Mítzi Marzzuti, com o espetáculo Temperança que passeou no palco com seus 07 bailarinos por vários excessos presentes no dia a dia do ser humano, drogas, sexo, prazerem em doses exageradas e enraizado nessa destemperança, cai no vazio profundo da alma e na dolorosa necessidade de buscar respostas e soluções nos mais diversos caminhos ao encontro do Deus interior.

Foi fantástico assistir ao espetáculo, aos bailarinos tão disciplinados, as coreografias compassadas, os gestos, os olhares, a música o ambiente. O clima cultural invadia o ambiente e tomava conta de todos os espaços. Percebi que compreender um espetáculo de dança não é tão fácil como compreender a mensagem de um espetáculo de teatro. É necessário uma concentração maior, maior esforço do intelecto, maior percepção dos detalhes, dos pequenos gestos que podem contar um trecho da história que se for perdido pode comprometer todo o contexto.

Entretanto algo me deixou profundamente triste naquele cenário. Num espaço que acomoda confortavelmente 400 pessoas, não encontravam-se mais que 30 delas. Ou seja, eu e outros cerca de 20 gatos pingados assistiram à beleza apresentada pela Cia de Dança Mítzi Marzzuti no palco do Centro Cultural José Ribeiro Tristão.

Uma pena profunda tomou conta da minha alma quando cheguei correndo, porque julgava-me atrasada, e notei que a escassez de carros no estacionamento significava que poucos cidadãos afonsoclaudeses se dignaram a sair de suas casas naquela belíssima noite de sábado para absorverem um pouco mais de cultura, tão escassa em nosso ambiente interiorano.

Não pude deixar de pensar no pesar dos artistas e da Diretora Mítzi, mulher de fibra e batalhadora da dança no estado do Espírito Santo. Como deve ser difícil ensaiar exaustivamente um espetáculo tão belo como o Temperança e subir ao palco para a apresentação para uma platéia repleta de cadeiras vazias com poucos, mas muito compenetrados, expectadores.

Fazer o que? Numa cidade onde as pessoas vivem reclamando que quase não se tem onde ir e o que fazer, um espetáculo de tão alto gabarito voltou para a capital sendo visto por cerca de 50 cidadãos.

Eu fui. Adorei. Levei minha filha adolescente para que ela também aprenda a gostar de cultura, teatro, dança e os demais prazeres que a vida proporciona. Estou fazendo minha parte, e não me arrependo. Espero que da próxima vez as pessoas possam participar e apreciar um espetáculo que nos mostrou a importância de mudarmos alguns valores do nosso EU.